sexta-feira, 2 de junho de 2017

Mostrei-me a ti

Eu te mostrei tudo; os cortes profundos cheios de pus, as cicatrizes horrendas que tento esconder com uma roupa bonita, mas que para você eu desabotoei a camisa. Para você eu mostrei o cru, o passado do ponto, o podre, o congelado, o que não consigo encarar. Deixei você ver as hemorragias que estanco com papéis riscados com poemas, e todos os meus desesperos, os cortes nos pulsos. Para você eu me expus como nem para mim eu havia feito, como nem para quem achava que havia visto. Eu não sei o que fazer agora, eu não como reagir depois de ter me colocado estendida no varal, pendurada sem molduras e sem coisinhas bonitas na parede; somente eu e o que sou, somente eu e o que tenho. Eu não quero que você fuja, mas se decidir, me avise, pois será mais uma miserável ferida que terei que cuidar.
Com várias pessoas fiz o convencional, mostrei a boa coisa, falei somente o que queriam ouvir, evitei que se assustassem comigo, mas a você eu fui com a cara, a alma e a coragem. 
Agora eu estou aqui com a acidez subindo e descendo, estou aqui em noites mal dormidas e com o embrulho no estômago, sem entender que sentimento é esse, sem coragem de descobrir que isso é mais do que o refluxo, os pesadelos e a fome. 
Eu te invadi com uma rapidez que te assustou; você conheceu minha exposição interna, meu show particular sem precisar arrombar a porta, mas também sem que eu tivesse a opção de dizer não. E você me viu de todas as formas intensas possíveis. Eu sinto falta de preparar o meu varal para que o veja, sinto falta do seu interesse em observar cada detalhe de mim.
                                                                                               #Sâmea S. Martini

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